Muitas são as interrogações sobre as razões que mantêm este “par”, vítima e manipulador, a viver em conjunto e por longos períodos de tempo, às vezes para toda a vida. Sigesmund Freud chamou-lhes o “par antitético fundamental”( junção de oposto), então identificado na problemática do sado-masoquismo (o prazer em sofrer e em fazer sofrer) e sem indicação para a Psicanálise. O discípulo de Freud, William Reich, dedicou-se a esta problemática e escreveu uma obra que intitulou “Deus e o Diabo”.
Da nossa vivência, estudo e prática clínica, o entendimento desta problemática passa pelo seguinte: Em fases muito precoces da vida a criança com um trauma muito profundo – morte da mãe, rejeição desta ou do pai, vivências de abandono em gerações anteriores -, desencadeiam nela uma sensação muito grande e dolorosa de abandono.
Perante esta ferida profunda que abala a construção do SELF (o arquétipo da plenitude, o centro regulador da psique – em glossário de termos Junguianos), e como defesa, dá-se na psique (alma) uma cisão. De um lado fica a ferida (reprimida, escondida, tapada…) e do outro o impulso de sobrevivência parece tomar conta da vida, e a personalidade vai-se desenvolvendo, mas muito mal, senão vejamos.
Ao contrário do que se supunha e por acção da investigação de Freud, o nosso inconsciente continua e sempre em profunda actividade, nestes casos, como um vulcão. O caminho que o inconsciente percorre nestes casos é também cindido, de acordo com princípios que desconheço. Um grupo de seres humanos segue o caminho da vitimização, entregando ao outro o seu self, tentando ser assertivo com tudo e com todos, mostrando-se bondoso esperando assim que o outro o acabe por reconhecer e amar. Toda a sua raiva, inveja e ódio fica reprimido, e desenvolve assim um “falso self”. É atreito às depressões, pois o esforço energético que faz para manter tal postura acaba por o desgastar profundamente.
Um outro grupo de seres humanos descarregam sobre os mais próximos em primeiro lugar e depois sobre os outros, a sua enorme frustração de não terem sido amados, reparados e reconhecidos na sua primeira infância. Perante a dor do abandono colocam-se no centro da sua psique, como o revela o mito de Narciso, e passam a exigir e a culpar os outros por aquilo que lhes era devido. Reivindicam o que acham que é seu, agora identificado nos bens materiais e sociais, e consideram-se impecáveis, bondosos, inteligentes, e merecedores de tudo o que é bom e melhor, tornando-se sábios manipuladores. Usam o medo, a força, a inteligência, a agudez para conseguir o que acham que é seu de direito. E com isso pensam adquirir o que lhes é devido, e alguma paz interior, considerando que só fazem justiça. Este equilíbrio é no entanto falso, pois que vivem cheios de medos e de “fantasmas”.
Mas o encontro perfeito dá-se quando estes dois tipos de seres humanos, marcados pelo estigma do abandono e da rejeição, se encontram. A vítima reconhece e vê no manipulador o seu lado reprimido, violento, cheio de revolta, desejoso de poder, de ser admirado e reconhecido… A vítima não assumiu esse lado por opção? mas admira a coragem do outro que o fez, e passa a adulá-lo, e a desculpá-lo. O manipulador revê na vítima a sua fraqueza, pequenez, e com isso aproxima-se da sua dor. Então vai sobre a vítima (que está reprimida em si), e descarrega sobre ela, responsabilizando-a de todo o seu sofrimento. Apanha os seus “pontos fracos”e um a um e vai-os projectando nela, descarregando a dor que está em si.
Mas no nível mais profundo do inconsciente, há um entendimento quase perfeito, uma Projecção completa, que une estes dois seres, e os pode manter assim toda uma vida.
Transposta para a sociedade, esta problemática tem sido, quanto a nós, a responsável pelo desnível social entre ricos e pobres, e outros desníveis.
A cura desta doença será objecto da minha próxima reflexão.
Da nossa vivência, estudo e prática clínica, o entendimento desta problemática passa pelo seguinte: Em fases muito precoces da vida a criança com um trauma muito profundo – morte da mãe, rejeição desta ou do pai, vivências de abandono em gerações anteriores -, desencadeiam nela uma sensação muito grande e dolorosa de abandono.
Perante esta ferida profunda que abala a construção do SELF (o arquétipo da plenitude, o centro regulador da psique – em glossário de termos Junguianos), e como defesa, dá-se na psique (alma) uma cisão. De um lado fica a ferida (reprimida, escondida, tapada…) e do outro o impulso de sobrevivência parece tomar conta da vida, e a personalidade vai-se desenvolvendo, mas muito mal, senão vejamos.
Ao contrário do que se supunha e por acção da investigação de Freud, o nosso inconsciente continua e sempre em profunda actividade, nestes casos, como um vulcão. O caminho que o inconsciente percorre nestes casos é também cindido, de acordo com princípios que desconheço. Um grupo de seres humanos segue o caminho da vitimização, entregando ao outro o seu self, tentando ser assertivo com tudo e com todos, mostrando-se bondoso esperando assim que o outro o acabe por reconhecer e amar. Toda a sua raiva, inveja e ódio fica reprimido, e desenvolve assim um “falso self”. É atreito às depressões, pois o esforço energético que faz para manter tal postura acaba por o desgastar profundamente.
Um outro grupo de seres humanos descarregam sobre os mais próximos em primeiro lugar e depois sobre os outros, a sua enorme frustração de não terem sido amados, reparados e reconhecidos na sua primeira infância. Perante a dor do abandono colocam-se no centro da sua psique, como o revela o mito de Narciso, e passam a exigir e a culpar os outros por aquilo que lhes era devido. Reivindicam o que acham que é seu, agora identificado nos bens materiais e sociais, e consideram-se impecáveis, bondosos, inteligentes, e merecedores de tudo o que é bom e melhor, tornando-se sábios manipuladores. Usam o medo, a força, a inteligência, a agudez para conseguir o que acham que é seu de direito. E com isso pensam adquirir o que lhes é devido, e alguma paz interior, considerando que só fazem justiça. Este equilíbrio é no entanto falso, pois que vivem cheios de medos e de “fantasmas”.
Mas o encontro perfeito dá-se quando estes dois tipos de seres humanos, marcados pelo estigma do abandono e da rejeição, se encontram. A vítima reconhece e vê no manipulador o seu lado reprimido, violento, cheio de revolta, desejoso de poder, de ser admirado e reconhecido… A vítima não assumiu esse lado por opção? mas admira a coragem do outro que o fez, e passa a adulá-lo, e a desculpá-lo. O manipulador revê na vítima a sua fraqueza, pequenez, e com isso aproxima-se da sua dor. Então vai sobre a vítima (que está reprimida em si), e descarrega sobre ela, responsabilizando-a de todo o seu sofrimento. Apanha os seus “pontos fracos”e um a um e vai-os projectando nela, descarregando a dor que está em si.
Mas no nível mais profundo do inconsciente, há um entendimento quase perfeito, uma Projecção completa, que une estes dois seres, e os pode manter assim toda uma vida.
Transposta para a sociedade, esta problemática tem sido, quanto a nós, a responsável pelo desnível social entre ricos e pobres, e outros desníveis.
A cura desta doença será objecto da minha próxima reflexão.
Gostaria de receber as vossas reacções a este texto assim como perguntas sobre o mesmo.
Maria Margarida Oliveira
Psicoterapeuta
Email: margarida.oliveira3@hotmail.com
Psicoterapeuta
Email: margarida.oliveira3@hotmail.com
Olá Margarida!
ResponderEliminarVi com atenção a exposição teórica sobre a construção da personalidade de vítima e agressor. Achei muito interessante, mas gostaria de lhe colocar algumas questões que são resultado da minha dificuldade de, a não ser em situações verdadeiramente patológicas, estabelecer esta dicotomia. O que é que faz com que, perante uma situação de abandono,em alguns indivíduos seja mais forte o efeito da dor,impondo-lhe o caminho da vitimação e noutros, o efeito do instinto de sobrevivência, impondo-lhe o caminho de agressor. Questões biológicas? Vivências anteriores? Ou questões ligadas ao contexto de desenvolvimento posterior? Tenho alguma dificuldade em estabelecer e compreender esta polarização. Entendo melhor o mecanismo de projecção relativamente à vítima, referindo-me à pessoa que, como padrão habitual de comportamento, assume esse papel . Mas não me parece que seja esta a acepção da Margarida. Penso que se refere ao par vítima/agressor que permanece unido como complemento patológico um do outro. Acredito na possibilidade de existir.Não me parece, no entanto, que corresponda à maioria das situações de agressão, quando falamos de violência conjugal. Também não me parece que, na maioria dos casos, este tipo de violência violência seja unilateral (perdoe-me esta postura politicamente incorrecta) .Creio, no entanto, que esta assume formas diferentes no masculino e no feminino, e em função de características da personalidade.
Referindo-me específicamente ao homicídio de conjuge, penso que, no homem, ele traduz uma passagem ao acto mais imediacta, sem ponderação anterior, enquanto que na mulher, traduz uma situação mais ponderada (veja-se os casos de "homicídio do marido" encomendados, que não tem correspondência, no inverso). Sabendo que o número de homicidas homens, é muito mais elevado, eu creio que esta diferença traduz causas biológicas e questões culturais de género.
Creio que na maior parte das relações conjugais em que existe violência, ela não é unilateral, assumindo, no entanto, formas diferentes. A maior parte dos homens que cometeram homicídio na pessoa mulher nunca pensaram que poderiam ser capazes de o fazer.
Penso que me desviei do assunto. Apenas porque não consigo ver a agressão ou a vitimização unicamente como resultado dum mecanismo de projecção. Tenho dificuldade em perceber qualquer característica da personalidade apenas a partir de um factor, embora saiba que a Margarida, ao explicá-lo desta forma, não está, concerteza a excluir todos os outros.
Um abraço
Felicidade
Felicidade
ResponderEliminarÉ evidente que esta patologia não engloba todas as patologias da relação. Mas é um começo para os casos de "sado-masoquismo" que infelizmente abundam muito entre nós. O que expôs revela que está interessada no assunto e que realmente temos que nos debruçar sobre esta problemática, uma vez que vivemos cada vez pior, segundo os dados estatísticos da Amnistia Internacional. Talvez começando por o universo que nos rodeia, ou pela nossas relações, uma vez que esta problemática está ainda muito escondida e todos vivemos atrás ou dependurados nela. Não acha?
Para já saber o que determina seguir-se o caminho de vítima ou de manipulador é ainda para mim um mistério e dentro da psicologia não encontramos resposta. Veja o livro de James Hilman "O Código da ALma" o que ele diz sobre a "semente maligna"! Talvez "vidas Passadas" mas essa é uma área que domino pouco.
Vá contactando comigo e procure sintetizar as suas ideias, dadas as limitaçoes deste meio de comunicação.
Margarida
Simplesmente perfeito...
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