sexta-feira, 21 de maio de 2010

Alguns Perfis de Manipulador/Vítima

3 – Alguns Perfis de Manipulador/Vítima

Começamos por referir que entre estes dois tipos de personalidade, manipulador/vítima, ocorre um fenómeno, a chamada “identificação projectiva” que torna por vezes difícil distinguir quem é verdadeiramente o manipulador ou a vítima. Este mecanismo de defesa ocorre quando uma pessoa se identifica de tal forma com outra pessoa, animal ou objecto, que adquire as características dele, vivendo assim numa chamada “participação mística”. Este termo de autoria de Lévy-Bruhl, indica “um elo psicológico muito primitivo, que dá origem a um poderoso vínculo inconsciente”.
Assim a vítima desculpa, encobre e aceita os maus tratos do manipulador e por sua vez este não tem consciência do mal que inflige à vítima. Quando confrontado com isso ele responde sempre em “projecção”: - eu faço isto sempre para o bem dela, deles -… Vejamos o que acontece com os políticos e outras personalidades públicas… Hitler afirmava que o seu projecto era para salvar a “raça ariana” e restituir a identidade ao povo alemão…
A cada manipulador tipo, existe uma vítima de sinal contrário. E não existe um só tipo de manipulador/vítima. A psicóloga Isabelle Nazare Aga escreveu um livro “Os Manipuladores Estão Entre Nós (Ed. Tenacitas) onde descreve 7 perfis de manipulador. Na nossa análise juntaremos as sete vítimas correspondentes.
Não significa que esta problemática fique estudada exaustivamente. Pelo contrário, consideramos que é um início de estudos, reflexões e análises que têm de ser continuados, dada a latitude e o País onde nos encontramos.
Mas como sei então verdadeiramente distinguir entre dois tipos de personalidade, dada a possibilidade de elas viverem em “participação mística”? O critério que usamos é o proposto por Cristo: “Pelas vossas obras vos distinguireis!”. É assim um critério ético a moral, ao contrário do proposto pela psicologia que é o do conhecimento. Mas não podemos esquecer as descoberta de Freud sobre as características do inconsciente : “este é por definição ilógico e amoral “. Mas o avanço nas relações humanas deve-se ao desenvolvimento moral e ético dos seres humanos.
Assim a força para sairmos deste labirinto tem de ser encontrada na força do Ego, que segundo Jung “é o complexo central no campo consciente”. Ou seja, terá que ser a força que coordena e ordena as aquisições da psique consciente, não deixando que os conteúdos inconscientes invadam a psique consciente e a coloquem ao seu serviço, o que se designa por “Possessão”.
Mas também esta força tem de ser encontrada na dimensão transcendente/religiosa, pois que se nos entregarmos a um guru, seja ele o mais santo, cairemos logo na sua dependência. Conhecedor deste dinamismo, o Professor Agostinho da Silva afirmava que se acabaram os mestres, e ele próprio recusava-se a liderar o quer que fosse.

Gostaria de receber as vossas reacções a este texto assim como perguntas sobre o mesmo.
Maria Margarida Oliveira
Psicoterapeuta
Email: margarida.oliveira3@hotmail.com

sexta-feira, 14 de maio de 2010

No encontro entre a Vítima e o Manipulador dá-se a Projecção Completa.

Muitas são as interrogações sobre as razões que mantêm este “par”, vítima e manipulador, a viver em conjunto e por longos períodos de tempo, às vezes para toda a vida. Sigesmund Freud chamou-lhes o “par antitético fundamental”( junção de oposto), então identificado na problemática do sado-masoquismo (o prazer em sofrer e em fazer sofrer) e sem indicação para a Psicanálise. O discípulo de Freud, William Reich, dedicou-se a esta problemática e escreveu uma obra que intitulou “Deus e o Diabo”.
Da nossa vivência, estudo e prática clínica, o entendimento desta problemática passa pelo seguinte: Em fases muito precoces da vida a criança com um trauma muito profundo – morte da mãe, rejeição desta ou do pai, vivências de abandono em gerações anteriores -, desencadeiam nela uma sensação muito grande e dolorosa de abandono.
Perante esta ferida profunda que abala a construção do SELF (o arquétipo da plenitude, o centro regulador da psique – em glossário de termos Junguianos), e como defesa, dá-se na psique (alma) uma cisão. De um lado fica a ferida (reprimida, escondida, tapada…) e do outro o impulso de sobrevivência parece tomar conta da vida, e a personalidade vai-se desenvolvendo, mas muito mal, senão vejamos.
Ao contrário do que se supunha e por acção da investigação de Freud, o nosso inconsciente continua e sempre em profunda actividade, nestes casos, como um vulcão. O caminho que o inconsciente percorre nestes casos é também cindido, de acordo com princípios que desconheço. Um grupo de seres humanos segue o caminho da vitimização, entregando ao outro o seu self, tentando ser assertivo com tudo e com todos, mostrando-se bondoso esperando assim que o outro o acabe por reconhecer e amar. Toda a sua raiva, inveja e ódio fica reprimido, e desenvolve assim um “falso self”. É atreito às depressões, pois o esforço energético que faz para manter tal postura acaba por o desgastar profundamente.
Um outro grupo de seres humanos descarregam sobre os mais próximos em primeiro lugar e depois sobre os outros, a sua enorme frustração de não terem sido amados, reparados e reconhecidos na sua primeira infância. Perante a dor do abandono colocam-se no centro da sua psique, como o revela o mito de Narciso, e passam a exigir e a culpar os outros por aquilo que lhes era devido. Reivindicam o que acham que é seu, agora identificado nos bens materiais e sociais, e consideram-se impecáveis, bondosos, inteligentes, e merecedores de tudo o que é bom e melhor, tornando-se sábios manipuladores. Usam o medo, a força, a inteligência, a agudez para conseguir o que acham que é seu de direito. E com isso pensam adquirir o que lhes é devido, e alguma paz interior, considerando que só fazem justiça. Este equilíbrio é no entanto falso, pois que vivem cheios de medos e de “fantasmas”.
Mas o encontro perfeito dá-se quando estes dois tipos de seres humanos, marcados pelo estigma do abandono e da rejeição, se encontram. A vítima reconhece e vê no manipulador o seu lado reprimido, violento, cheio de revolta, desejoso de poder, de ser admirado e reconhecido… A vítima não assumiu esse lado por opção? mas admira a coragem do outro que o fez, e passa a adulá-lo, e a desculpá-lo. O manipulador revê na vítima a sua fraqueza, pequenez, e com isso aproxima-se da sua dor. Então vai sobre a vítima (que está reprimida em si), e descarrega sobre ela, responsabilizando-a de todo o seu sofrimento. Apanha os seus “pontos fracos”e um a um e vai-os projectando nela, descarregando a dor que está em si.
Mas no nível mais profundo do inconsciente, há um entendimento quase perfeito, uma Projecção completa, que une estes dois seres, e os pode manter assim toda uma vida.
Transposta para a sociedade, esta problemática tem sido, quanto a nós, a responsável pelo desnível social entre ricos e pobres, e outros desníveis.
A cura desta doença será objecto da minha próxima reflexão.


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Maria Margarida Oliveira
Psicoterapeuta
Email: margarida.oliveira3@hotmail.com